Boas vindas

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Encontro em 13/10/2010

Continuando a caminhada do grupo, nos encontramos no dia 13/10/2010, Lucia Weiler, Maria Josete Rech, Natália Bueno, Natália Detori, Maria Vanessa Freitas Moraes, Teresinha Dorigon Vieira, Paulo Ademir Reis e Arno Frelich.
Iniciamos o encontro como de costume, com uma dança circular, a dança da harmonia.
Lucia recituou o grupo com a proposta do grupo de pesquisa, o qual não substitui o grupo de reflexão. Este grupo de pesquisa segue as orientações da ESTEF, sendo registrado no Cnpq. Passos a serem dados: setembro a novrembro a leitura do material; até janeiro entrevistas. Ainda houve a confirmação das/os integrantes do projeto.
Comentou-se ainda o momento político, onde a candidata à presidência vem sendo atacada, demonizando a sua imagem. A todo custo se quer desfazer a imagem da mulher, colocando mulher contra mulher.
Retoumou-se, para aprofundamento, o capítulo IV de “Caminhos da Sabedoria”, de Elisabeth Schüssler Fiorenza. Buscou-se compreender o que é o androcentrismo, o kyriarcado..., os vários termos que são técnicos. Aparece também uma análise histórica de como estes termos foram construídos e introjetados, havendo aqui necessidade de se ter critérios de análise para ver a realidade. A autora ainda coloca como os vários grupos feministas usam os instrumentais e acentuam os conceitos. A crítica de Fiorenza é ao que sustenta uma estrutura kyriarcal. Tanto homens como as mulheres devem converter-se para surgir uma sociedade onde todos possam conviver em novas relações igualitárias. As relações de dominação deve ser mudada. Não basta desconstruir as introjeções, mas construir algo novo.
As mulheres têm introjeções androcêntricas que as desqualificam por colocá-las a partir de uma característica (mãe).
Na base de todas as relações sociais hoje se encontra o androcentrismo patriarcal, no qual há relações de subordinação e de opressão de gênero, levando a uma relação sexista. Mas essa relação não é a única problemática da sociedade, lembrando o racismo, classismo, imperialismo.
Constroem-se intersecções de opressão, a partir da construção da propriedade econômica, que passa a poderes sociais. O dono, o patrão, o senhor domina tudo. Existem culturas e sociedade em que a mulher é completamente submissa ao “seu senhor” (pai, marido...).
Na Igreja existem estruturas piramidais, nas quais há a possibilidade de diferentes camadas, não caindo no absolutismo, não perdendo, porém, a característica autoritária. Reproduz-se na vida eclesial e na vida religiosa as relações piramidais, perpetuantes na sociedade e na Igreja durante os séculos. O ideal de domocracia ainda não é colocado em prático por repetir um modelo grego, no qual somente alguns, detentores de poder, participavam. Quem está no poder necessita de quem está submisso para legitimar o seu lugar e sua função.
A linguagem é determinante na nossa formação. Há coisas que nem se chega a verbalizar. Falar demonstra que já tomamos consciência.
Por fim fez-se o exercício de situar-se na pirâmide representativa da sociedade, também com quem se solidária/o com outros grupos e pessoas.
Para o próximo encontro, dia 10/11/2010, ficou o estudo do quinto capítulo.
Num momento seguinte voltou-se à organização do grupo de pesquisa. A partir da leitura feita sobre a monografia da Ana Isabel de Moraes Alfonsin (Belinha), sublinhou-se este trabalho como base para início do trabalho. Pessoas para entrevistar: Matilde Cecchin e Ana Isabel de Moraes Alfonsin; Irmã Cristina Zanchetti.
Procurar os relatórios dos encontros da mística feminina, bem como fotos.
Perguntas: como surgiu? De onde surgiu o desejo, anseio? Por que o nome? Participação em que atividade cada uma participou? Quais dificuldades? Resgatar a história e a trajetória do grupo. O que isso modificou na vida pessoal, em que contribuiu para a libertação? Contribuiu para alguma mudança social? Como se sentiam no grupo, que lugar ocuparam?
Como método: uma entrevista aberta, com algumas perguntas elaboradas, mas com espaço de expressão pessoal.
Lucia entrará em contato com a Matilde para convidá-la para uma conversa. Do grupo, quem puder se fará presente.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dom Demétrio: “Já passou o tempo das falácias divulgadas pela imprensa”

O FATO RELEVANTE

Por D. Demétrio Valentini, bispo de Jales

no blog da Diocese

23/09/2010 às 15H25

Nestas eleições um fato novo está acontecendo. Fato verdadeiramente relevante. Mas que não precisa ser publicado na grande imprensa. Aliás, o fato relevante consiste exatamente nisto: o povo já não se guia pelos “fatos relevantes” publicados pela mídia. A grande imprensa perdeu o poder de criar a “opinião pública”. A “opinião pública” não coincide mais com a “opinião publicada”.

O povo encontrou outros caminhos para chegar às suas próprias opiniões, e traduzi-las em suas opções eleitorais. Já houve eleições que mudaram de rumo por causa do impacto produzido pela divulgação de “fatos relevantes”, tidos assim porque assim divulgados pela grande imprensa. Agora, a grande imprensa fica falando sozinha, enquanto o povo vai tomando suas decisões. Bem que ela insiste em lançar fatos novos, na evidente tentativa de influenciar os eleitores, e mudar o rumo das eleições. Mas não encontram mais eco. São como foguetes pífios, que explodem sem produzir ruído.

A reiterada publicação de fatos, que ainda continua, já não encontra sua justificativa nas reações suscitadas, que inexistem. Assim, as publicações necessitam se apoiar mutuamente, uma confirmando o que divulga a outra, mostrando-se interdependentes mais que duas irmãs siamesas, tal a impressão que deixam, por exemplo, determinado jornal e determinada revista. Esta autonomia frente à grande imprensa, se traduz também em liberdade diante das recomendações de ordem autoritária.

Elas também já não influenciam. Ao contrário, parecem produzir efeito contrário. Quando mais o bispo insiste, mais o povo vota contra a opinião do bispo. Este também é um “fato relevante”, às avessas. Não pela intervenção da Igreja no processo eleitoral. Mas pela constatação de que o povo dispensa suas recomendações, e faz questão de usar sua liberdade. Este “fato relevante” antecede o próprio resultado eleitoral, e pode se tornar ponto de partida para um processo político muito promissor. O povo brasileiro mostra que já aprendeu a formar sua opinião a partir de “fatos concretos”, que ele experimenta no dia a dia, dos quais ele próprio é sujeito.

Já passou o tempo das falácias divulgadas pela imprensa, onde o povo era reduzido a mero espectador. Em tempos de eleições, como agora, fica mais fácil o povo identificar em determinadas candidaturas a concretização da nova situação que passou a viver nos últimos anos. Mas para consolidar esta mudança, e atingir um patamar de maior responsabilidade política, certamente será necessário trabalhar estes espaços novos de autonomia e de participação, que o povo começou a experimentar.

Temos aí o ponto de partida para engatar bem a proposta de uma urgente reforma política, e também de outras reformas estruturais, indispensáveis para superar os gargalos que impedem a implementação de um processo democrático amplo e eficaz. O fato novo, a boa notícia, não consiste só em saber quem estará na Presidência da República, nos Governos Estaduais, e nos parlamentos nacionais e estaduais. A boa notícia é que o povo se mostra disposto a tomar posição e assumir o seu destino de maneira soberana e responsável.

Fonte:
http://www.viomundo.com.br/politica/dom-demetrio-ja-passou-o-tempo-das-falacias-divulgadas-pela-imprensa.html

Carta aberta a Dom Demétrio

Querido dom Demétrio

Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela.

Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições.

Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 2 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro.

Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votasse nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.

Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.
Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos.

Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.

Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres.

Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país.

Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras.

Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. “Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos”. Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias.

Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.

Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver. Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui!

Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.

Uma declaração clara da CNBB deve tranqüilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.

Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias

Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante.

Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente anti-evangélica.

Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por isso aguardamos palavras claras.

Obrigado, dom Demétrio.
José Comblin, padre e pecador.

5 de outubro de 2010

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com/2010/10/carta-aberta-dom-demetrio.html

Sobre o aborto

por Irene da Silva Telles

Causa espanto e revolta a polêmica que se faz sobre o aborto, atribuindo à candidata Dilma Rousseff uma declaração de que é a favor do aborto. Uma mentira deslavada porque não conheço UMA MULHER que seja a favor do aborto. Imagine-se!

Homens, sim! Aqueles que obrigam as mulheres em quem fizeram filhos a fazerem aborto. Claro que não dizem. Pelo contrário, com a cara mais hipócrita do mundo, declaram, se têm algum poder – senadores, deputados, vereadores, ministros do judiciário, padres, pastores etc – que são contra a descriminalização do aborto.

E as mulheres: alguém conhece alguma que seja a favor do aborto?

Que fazem aborto, podem fazer: a mulher que não agüenta mais, que sabe que não vai poder sustentar o filho – muitas vezes ignorado por quem o fez – a mulher que está com raiva do companheiro que a forçou, a mulher que está à beira de se matar porque está nos limites das forças. Essas, fazem aborto, sim.

Se têm dinheiro para pagar, fazem aborto nas clínicas aborteiras: uma clínica em cada bairro do Rio de Janeiro. (Algum legislador toma providências para fechá-las? Não, porque não interessa: as mulheres, filhas, netas e sobrinhas deles são clientes). As que não têm como pagar o aborto, arriscam-se, estrepam-se (e vão sobrecarregar os hospitais públicos) ou morrem mesmo.

E ainda são consideradas criminosas!

Enquanto isso, os homens ficam numa boa: não são criminalizados, parece que não têm nada com a gravidez da mulheres com quem dormiram.

É revoltante para nós, mulheres, vermos essa discriminação: parece que estamos no tempo do Antigo Testamento, como os fundamentalistas muçulmanos, que apredejam mulheres adúlteras.

Mas é bom, católicos e evangélicos, lembrarmos a Boa Nova (o Evangelho): quando o pessoal queria apredejar a adúltera, Cristo disse: “Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra”. E todos se afastaram, os mais velhosem primeiro lugar. E Jesus perguntou: “Alguém te condenou? Eu também não te condeno”. E Cristo disse à adúltera: “Vai e não peques mais” (João 8, 3-11)

Infelizmente, parece que o Brasil ainda é vetero-testamentário: Jogue a pedra na mulher!

Irene Silva Telles é correspondente da redecastorphoto - 82 anos, professora aposentada do Estado do Rio de Janeiro e da Faculdade de Educação da UFRJ
Católica, casada mãe de 10 (dez) filhos e avó de 14 netos.

Fonte: