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sábado, 17 de dezembro de 2011

TEIAS EM CONSTRUÇÃO

Caros leitores(as) que nos acompanham mensalmente nesta coluna “Teias em construção”.
O assunto que abordaremos nesta edição é primeiramente a partilha da minha experiência como mulher estudando Teologia Feminista, as implicações que isso trouxe para a minha vida e as desconstruções que fui fazendo ao longo do processo.
Eu fui criada num ambiente em que o homem era o forte , aquel que cuidava dos negócios da casa e a mulher como aquela subordinada ao homem, dedicando-se ao cuidado do marido, dos filhos e da casa num todo.
Quando comecei a estudar Teologia Feminista fui compreendendo a partir da História e da Palavra de Deus que a mulher sofria muito por causa da divisão que a sociedade estabelecia entre homem e mulher. Mas, percebe-se que hoje em parte isso ainda continua.
As mulheres percebendo toda essa divisão decidem-se escrever um livro-manifesto, com o tema “Não estamos dispostas a calar” contestando a igualdade sacramental na Igreja. Com o tempo elas vão se organizando e criam um grupo de reflexão teológica que foi denominado “Teologia Feminista” isso nas ultimas décadas. Com isso se introduz no círculo hermenêutico a outra metade da humanidade e da Igreja, enriquecendo a experiência de fé, a sua formulação e as suas expressões.
Quando as mulheres decidiram reverter o caminho já trilhado, muitos foram os desafios enfrentados. Um deles é ao falar da questão de gênero muito vista como identidade masculina e feminina e não como uma categoria relacional. E hoje não é diferente, quando se fala de gênero os comentários são “isso é coisa de mulher”. Mas o que se busca é a igualdade. Ninguém é mais por ser homem ou mulher.
Como já comentávamos, na Palavra de Deus vemos muito relatos de experiências de mulheres presas a um sistema que as mantinha sob a dependência de um homem seja ele pai, marido, irmão ou filho, ou seja, ela não tinha direitos nem liberdade perante a sociedade.
Destaco aqui a coragem de Tamar, uma viúva que vai em busca de seus direitos. Tamar pertencia à tribo de Judá. Ela se casa com Her filho mais velho de Judá, esse morre sem deixar descendência. Tamar segundo a lei do levirato casa-se agora com o irmão de Her, Onã, esse vem a falecer sem deixar descendência. Judá ainda tem mais um filho, que deve ocupar o lugar dos irmãos. Judá manda Tamar para a casa de seu Pai até que o ultimo filho Sela cresça. Passa-se o tempo e Judá não cumpre a lei do levirato. Tamar toma uma decisão, vou me vestir de prostituta e me colocar no caminho para Tamna, pois Judá vai tosquiar suas ovelhas. Judá não a reconhece como sua nora e tem relações sexuais com ela. Tamar pede a ele objetos de seu uso pessoal como provas. Tamar fica grávida e mostra que ela foi mais fiel a lei do que Judá. Tamar, como tantas outras mulheres nos interpelam na busca pela descontrução de certas mentalidades impostas. Caro leitor (a) para uma maior reflexão leia o texto na integra – Gn 38,1-26.
Na Bíblia percebemos também fatos que revelam como a afetividade e a sexualidade eram vivenciadas. No livro do Levítico e Cântico dos Cânticos vemos a mulher como pessoa impura por ser filha de uma mulher. O sexo era visto como impuro. Tanto ao dar a luz , ter relações ou estar no período menstrual tornava a mulher impura e isso a impedia de participar das celebrações do templo, tocar nos filhos, maridos e outras pessoas entre outras recomendações. O livro do Cântico dos Cânticos é um livro que retrata um novo olhar sobre a sexualidade humana. A circuncisão era o rito de passagem dos meninos que permitia a ele pertencer ao povo de Deus, ser incluído na aliança. As mulheres não faziam a circuncisão e isso afirmava que a mulher só poderia chegar a Deus intermediada por um homem. Jesus veio quebrar essa barreira. Pelo sacramento do Batismo todos (as) se tornam filhos (as) de Deus, criados (as) a imagem e semelhança de Deus. Os gregos viam o corpo como algo negativo, pecaminoso. Deus criou homem e mulher a sua imagem- sexualidade como sagrada. Jesus pela sua encarnação divinizou o humano e humanizou o divino. Isso diz para nós que em qualquer lugar onde estão o homem e a mulher tanto em casa, na cama ou no trabalho se faz necessário estabelecer relações de igualdade.
Jesus ia ao encontro das mulheres e elas vinham até Ele. Aqui quero destacar o encontro de Jesus com Marta e Maria. Jesus chega na casa de Marta. Marta era quem coordenava a Igreja que se reunia em sua casa. Maria era aquela que simplesmente ouvia. Jesus ao visita-las provoca em Marta certos questionamentos. O que devo fazer, servir ou permanecer passiva? Marta faz um discernimento e Jesus dá a ela uma vocação. Marta vê,crê e anuncia. Maria ouve os ensinamentos de Jesus. Percebe-se neste texto que nos foi que Marta era preocupada com os afazeres de casa – o fazer e Maria aquela que era mais passiva, reflexiva – o ser. Quando percebi que por trás disso tudo está a vocação de Marta, vi um novo modo de perceber as mulheres como protagonistas em uma comunidade, que questionam e buscam entender a sua missão.
Muito foi o que aprendi a partir da visão feminina da Bíblia, de que tudo o que está escrito tem algo a nos transmitir, traços marcantes na história do Povo de Deus.
Caro leitor (a). Que bom saber que você nos acompanha a cada nova edição. Espero que a minha partilha tenha enriquecido a maneira de se relacionar num discipulado de iguais de irmãos ((as) criados a imagem e semelhança de Deus. Obrigada pela sua atenção. Até a próxima edição trazendo para você assuntos de grande importância no nosso mundo teológico.

Pela edição: Karina Skorek

Este foi o trabalho de síntese – avaliação G2 – da disciplina de Teologia Feminista orientada por Lucia Weiler no Curso Básico de Teologia, na ESTEF – 2011.