Boas vindas

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Continuando a refletir

José Comblin *

Caríssimo Arnaldo,

Você se lembra do golpe eleitoral que estourou na véspera do primeiro turno das eleições de 2010 quando apareceu todo um alvoroço sobre a questão do aborto. Esse alvoroço permaneceu durante todo o mês de outubro até o segundo turno. Nas igrejas e fora das igrejas foram distribuídos milhões de panfletos assinados pelos bispos da diretoria do regional Sul 1 para intimar os católicos a votar no candidato José Serra. O motivo era que os candidatos do PT, principalmente a candidata à presidência da república, queriam legalizar o aborto no Brasil e, por conseguinte, queriam implantar uma cultura de morte.

Esse incidente me levou a refletir um pouco sobre esse fato bastante estranho e o seu significado eclesial. Quero comunicar-lhe aqui alguma coisa dessas reflexões.

Os bispos denunciadores se diziam os defensores da vida, isto é, pessoas que lutam contra o aborto e lutam contra todos os políticos que defendem o aborto descriminalizado no Brasil. O seu linguajar foi o que usam os movimentos que se dizem defensores da vida porque condenam o aborto. Era um linguajar violento, condenatório. Somente por distração os autores esqueceram-se de comunicar que a descriminalização do aborto estava no programa do PV, e que o candidato Serra já tinha autorizado o aborto em certos casos quando era ministro da saúde, o que lhe valeu os protestos da CNBB. Com certeza foi um esquecimento por distração. Por discrição os bispos omitiram o que aconteceu um dia na vida do casal Serra, o que foi bom porque a vida privada não deve interferir com a vida pública

Sucede que a Igreja condena desde sempre o aborto, e estabeleceu uma pena de excomunhão para todos os que têm participação ativa. Conseguiu que houvesse no Brasil uma lei que criminaliza o aborto. Mas o Brasil é um dos países onde há mais abortos. Alguns dizem 70.000 por ano, outros estudos chegam a dizer que uma de cada 5 mulheres no Brasil já praticou um aborto. Sempre é um aborto clandestino e naturalmente é feito nas piores condições para os pobres. Pois para quem tem condições há clínicas particulares bem equipadas, conhecidas, porém jamais denunciadas pela Igreja. Sobre essas clínicas para os ricos o poder judicial fecha pudicamente os olhos. Afinal, trata-se de pessoas importantes, as condenações da Igreja não têm nenhum efeito. A lei da república não tem nenhum efeito. Os defensores da vida não conseguem defender nada. Falam, falam, mas sem resultado. Condenam, condenam, mas o crime se comete com a maior indiferença pelas condenações verbais ou legais. Falam, condenam e nada acontece. Eles se dão boa consciência achando que defendem a vida, mas não defendem nada. Há um lugar no evangelho em que Jesus fala das pessoas que falam e não fazem nada. Impedem a descriminalização, mas defendem a situação atual, ou seja, são defensores do aborto clandestino, que é a situação atual.

O seu argumento poderia ser que a descriminalização aumentaria o número de abortos. No entanto, a experiência de outros países mostra que, pelo contrário, diminui o número de abortos. Isto se explica facilmente. Pois uma vez que uma mulher pode falar abertamente em aborto, as autoridades podem com a ajuda de psicólogas, de assistentes sociais, de assistentes religiosos dialogarcom ela e buscar com ela outra solução, o que de fato acontece. Muitas mulheres não teriam feito o aborto se tivessem recebido ajuda moral ou material, quando estavam desamparadas.

Já que o documento era assinado por bispos, eu pensava que os bispos fossem explicar o que estão fazendo na pastoral da sua diocese para lutar contra o aborto clandestino, e fizessem propostas aos candidatos nas eleições na base das suas experiências pastorais. Mas não havia nada disso no panfleto. Teria sido interessante saber como fazia a pastoral diocesana para evitar que houvesse abortos. Mas não havia nada. Os bispos gritavam, assustavam, condenavam, mas não diziam o que faziam. Alguns leitores pensaram: já que não falam da sua pastoral para evitar o aborto, deve ser porque não existe essa pastoral. Falam contra o aborto, mas não fazem nada para evitá-lo. Condenam, e mais nada.

Pois, poderiam fazer muita coisa. Muitas mulheres que querem fazer o aborto, são mulheres angustiadas, perdidas, desesperadas que se sentem numa situação sem saída. Muitas querem o aborto porque os seus pais não aceitam que tenham uma criança. Outras são obrigadas a fazer o aborto pelo homem que as estuprou, e que pode ser o próprio pai, um irmão, um tio, um padrasto. Outras estão desesperadas porque a empresa em que trabalham, não permite que tenham criança. Outras são empregadas domésticas e a patroa não aceita que tenham que cuidar de uma criança. Então essas meninas ou moças ficam angustiadas e não sabem o que fazer. Não recebem atendimento, não recebem conselho, não recebem apoio nem moral nem material, porque tudo é clandestino e nem sequer se atrevem a falar com outras pessoas a não ser algumas amigas muito próximas. Não achando alternativa, a contra-gosto e com muito sofrimento recorrem ao aborto. A Igreja não as ajudou quando precisavam de ajuda.

A Igreja poderia ter uma pastoral para olhar o que acontece na rua, no bairro, quais são as meninas ou moças que podem estar em estado de perigo porque estão numa dessas categorias de risco. Poderia acolher ou dar assistência moral e material, dialogar, buscar outras soluções. A experiência mostra que às vezes um simples abraço faz com que desistam de fazer o aborto. O aborto é o resultado da indiferença da comunidade cristã. Somos todos culpados, todos cúmplices por omissão e, em primeiro lugar, teríamos que pedir perdão pelo nosso descuido em lugar de acusar essas mulheres. Era o que se esperava de um documento assinado por bispos, que, afinal, representam o evangelho e a maneira como Jesus tratava os pecadores.

Jesus não condenou os pecadores e o que se espera da Igreja é que tenha muita misericórdia, muita compreensão e que ajude efetivamente essas pessoas que estão numa situação tão difícil. Poderíamos fazer sugestões ao poder legislativo no sentido de criar instituições para responder e tantos casos em que a vida humana está em perigo, e este é um deles.

Não faz sentido dizer que sou contra o aborto e estou defendendo a vida se não faço nada. Não estou defendendo vida nenhuma e o aborto está aí e não faço nada. O governo tem uma lei que criminaliza o aborto e essa lei não se aplica. Só serve para que o aborto seja clandestino, isto é, feito nas piores condições morais e físicas, salvo para as pessoas de boa condição. Essa lei é inaplicável e a Igreja nem se atreve a pedir que ela se aplique. Seria preciso construir milhares de penitenciarias e colocar nas prisões talvez um milhão de mulheres. A Igreja não pede isso e se conforma com o aborto clandestino. Na prática nada faz contra o aborto clandestino.

Existe a alternativa da descriminalização, que é para os nossos defensores da vida a proposta de Satanás. A chantagem dos chamados defensores da vida fez com que todos condenem a descriminalização, como faz a Igreja. Quem sou eu para julgar? Os bispos do Regional Sul 1 acham melhor o aborto clandestino. Quem sou eu para discutir? Porém, teria o direito de pedir mais discrição e mais humildade, porque afinal somos todos cúmplices por omissão se não fazemos nada para prevenir os abortos tão numerosos no Brasil. A condenação é inoperante. Mas uma pastoral da família ou uma pastoral específica para esse problema poderia evitar que muitas mulheres angustiadas e desesperadas tenham quer recorrer ao aborto que nenhuma mulher pede sem chorar. Porque esperar antes de desenvolver essa pastoral?

Então, qual foi o testemunho de amor que a Igreja deu com esse panfleto eleitoral?

José Comblin, grande pecador e cúmplice por omissão.


* Teólogo

Fonte: Adital

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Encontro de 10/11/2010 - Grupo Miriam Dabar

Estavam presentes: Raquel Pena Pinto, Maria Josete Rech, Paulo Ademir Reis, Leonete Cassol, Lucia Weiler, Eurides, Élida, Natália.

Estudo: Capítulo 5 - Os passos da sabedoria, do livro “Caminhos da Sabedoria”, de Elizabeth Schüssler Fiorenza.

Pontos enfatizados:
  • A metáfora da dança exige uma série de instrumentos, treinos, para que a dança aconteça. Esta metáfora é riquíssima.

Método corretivo-revisionista:
  • Cada estudiosa/o deve fazer opção sobre as variantes dos manuscritos. Aqui se chama a atenção para variações que mostram a possibilidade do feminino.
  • Buscar mais proxmidade ao sentido do texto. Veja-se a dificuldade de se colocar o Espírito Santo como feminino, como é no hebraico.
  • Corre-se o risco de se passar sempre uma interpretação kyriocêntrica.
  • Construir e revisar para além do texto. Num primeiro momento se tentou dar visibilidade aos textos de mulheres. Agora há a necessidade de nova interpretação, retirando as camadas de dominação e subordinação.
  • Na vida religiosa estamos muita aquém, mesmo nas leituras orantes. Quanto conseguimos problematizar? Romper com o dualismo?
  • Aparece um déficit de formação...


Método Histórico-reconstrutivo:
  • Tem-se medo de quebrar relações, que acabam sendo superficiais, pois não se chega no profundo.
  • O método exige relações verdadeiras. Tornar audíveis os sentimentos reprimidos. Ouvir quem está calado.
  • Visibilizar as histórias ocultas. A mulher não deve ser vista como oposta ao homem. Ela tem um agir criativo na história. Tem o poder de construir história.
  • Por que estou fazendo história assim? Por que faço leitura feminista assim? De fato é leitura feminista? Quais são os pressupostos?
  • Teoria e prática devem andar juntas, pela vivência.
  • Há a necessidade de um “desarranjo” teórico.
  • Mulheres não podem continuar reproduzindo os mesmos esquemas que já estão aí.


Método Imaginativo:
  • tentativa de atualizar as narrativas, através de narração livre, dança, canto...
  • ligação com as mulheres nos textos bíblicos, explícita ou implicitamente.
  • Enquanto brancos puderam aprender a ler e escrever, bem como interpretar a bíblia, os negros não tiveram esta possibilidade, desenvolvendo uma interpretação imaginativa.
  • Um jeito diferente de contar a história é perguntar “o que seria se...?”
  • Outros jeitos: entrevista com os personagens bíblicos, escrever cartas a eles...
  • Importante é estar em contato com os sentimentos e emoções.
  • Também dança, colagem, desenho, movimento corporal...
  • Midrash: um tipo específico de interpretar, criando textos homiléticos, legais...
  • A bíblia não é uma pintura, se parece mais com a palheta de cores que o artista usa para criar uma pintura.
  • A leitura midráshica coloca de volta a voz das mulheres na narrativa bíblica.
  • O Bíblio-drama: método aberto de interação entre o texto bíblico, a experiência e os sentimentos das pessoas envolvidas, está assim muito próximo da leitura popular feita no Brasil.
  • Representações que moldam as consciências e a sabedoria de grupos, comunidades, enraizando-se nas realidades sócio-econômicas.


Método de conscientização:
  • Na sociedade houve uma caminhada transformadora. Na Igreja (instituições religiosas) ainda não se chegou ao mesmo patamar.
  • Quais mudanças necessitamos fazer.
  • Questionar emoções evocadas por histórias kyriarcais. Dar o tempo antes de reconstruir as histórias. As mulheres sentem diferente.
  • Criar visões alternativas, formando a resistência, para rejeitar a fixação kyriocêntrica.
  • O texto também tem uma função, por isso, deve ser analisado sobre o que supõe e sobre o que passa no silêncio.


Quanto mais se é intelectual e mais difícil fazer a vida encontrar-se com o texto, na sensibilidade. Mais ainda se o grupo está dentro de um esquema clerical.
O povo simples, principalmente as mulheres, entende, sente com o corpo. Para um auto-suficiente é muito difícil entender a bíblia.
A contribuição singular da teologia feminista é esta, a da reconstrução de textos, da linguagem, criar com imaginação...
Um aspecto que ainda encontramos é o peso da culpabilização, do pecado... A cultura introduz e a religião sacraliza.
A proposta é criar uma Igreja de mulheres (não das). Espaço alternativo radicalmente democrático.


Combinações e comunicações:
Pesquisa: passar entre nós os pontos, para que quem puder faça algum encaminhamento.
Não faremos encontro em dezembro.
Final de fevereiro nos reencontramos, com a data a ser combinada por e-mail.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Encontro em 13/10/2010

Continuando a caminhada do grupo, nos encontramos no dia 13/10/2010, Lucia Weiler, Maria Josete Rech, Natália Bueno, Natália Detori, Maria Vanessa Freitas Moraes, Teresinha Dorigon Vieira, Paulo Ademir Reis e Arno Frelich.
Iniciamos o encontro como de costume, com uma dança circular, a dança da harmonia.
Lucia recituou o grupo com a proposta do grupo de pesquisa, o qual não substitui o grupo de reflexão. Este grupo de pesquisa segue as orientações da ESTEF, sendo registrado no Cnpq. Passos a serem dados: setembro a novrembro a leitura do material; até janeiro entrevistas. Ainda houve a confirmação das/os integrantes do projeto.
Comentou-se ainda o momento político, onde a candidata à presidência vem sendo atacada, demonizando a sua imagem. A todo custo se quer desfazer a imagem da mulher, colocando mulher contra mulher.
Retoumou-se, para aprofundamento, o capítulo IV de “Caminhos da Sabedoria”, de Elisabeth Schüssler Fiorenza. Buscou-se compreender o que é o androcentrismo, o kyriarcado..., os vários termos que são técnicos. Aparece também uma análise histórica de como estes termos foram construídos e introjetados, havendo aqui necessidade de se ter critérios de análise para ver a realidade. A autora ainda coloca como os vários grupos feministas usam os instrumentais e acentuam os conceitos. A crítica de Fiorenza é ao que sustenta uma estrutura kyriarcal. Tanto homens como as mulheres devem converter-se para surgir uma sociedade onde todos possam conviver em novas relações igualitárias. As relações de dominação deve ser mudada. Não basta desconstruir as introjeções, mas construir algo novo.
As mulheres têm introjeções androcêntricas que as desqualificam por colocá-las a partir de uma característica (mãe).
Na base de todas as relações sociais hoje se encontra o androcentrismo patriarcal, no qual há relações de subordinação e de opressão de gênero, levando a uma relação sexista. Mas essa relação não é a única problemática da sociedade, lembrando o racismo, classismo, imperialismo.
Constroem-se intersecções de opressão, a partir da construção da propriedade econômica, que passa a poderes sociais. O dono, o patrão, o senhor domina tudo. Existem culturas e sociedade em que a mulher é completamente submissa ao “seu senhor” (pai, marido...).
Na Igreja existem estruturas piramidais, nas quais há a possibilidade de diferentes camadas, não caindo no absolutismo, não perdendo, porém, a característica autoritária. Reproduz-se na vida eclesial e na vida religiosa as relações piramidais, perpetuantes na sociedade e na Igreja durante os séculos. O ideal de domocracia ainda não é colocado em prático por repetir um modelo grego, no qual somente alguns, detentores de poder, participavam. Quem está no poder necessita de quem está submisso para legitimar o seu lugar e sua função.
A linguagem é determinante na nossa formação. Há coisas que nem se chega a verbalizar. Falar demonstra que já tomamos consciência.
Por fim fez-se o exercício de situar-se na pirâmide representativa da sociedade, também com quem se solidária/o com outros grupos e pessoas.
Para o próximo encontro, dia 10/11/2010, ficou o estudo do quinto capítulo.
Num momento seguinte voltou-se à organização do grupo de pesquisa. A partir da leitura feita sobre a monografia da Ana Isabel de Moraes Alfonsin (Belinha), sublinhou-se este trabalho como base para início do trabalho. Pessoas para entrevistar: Matilde Cecchin e Ana Isabel de Moraes Alfonsin; Irmã Cristina Zanchetti.
Procurar os relatórios dos encontros da mística feminina, bem como fotos.
Perguntas: como surgiu? De onde surgiu o desejo, anseio? Por que o nome? Participação em que atividade cada uma participou? Quais dificuldades? Resgatar a história e a trajetória do grupo. O que isso modificou na vida pessoal, em que contribuiu para a libertação? Contribuiu para alguma mudança social? Como se sentiam no grupo, que lugar ocuparam?
Como método: uma entrevista aberta, com algumas perguntas elaboradas, mas com espaço de expressão pessoal.
Lucia entrará em contato com a Matilde para convidá-la para uma conversa. Do grupo, quem puder se fará presente.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dom Demétrio: “Já passou o tempo das falácias divulgadas pela imprensa”

O FATO RELEVANTE

Por D. Demétrio Valentini, bispo de Jales

no blog da Diocese

23/09/2010 às 15H25

Nestas eleições um fato novo está acontecendo. Fato verdadeiramente relevante. Mas que não precisa ser publicado na grande imprensa. Aliás, o fato relevante consiste exatamente nisto: o povo já não se guia pelos “fatos relevantes” publicados pela mídia. A grande imprensa perdeu o poder de criar a “opinião pública”. A “opinião pública” não coincide mais com a “opinião publicada”.

O povo encontrou outros caminhos para chegar às suas próprias opiniões, e traduzi-las em suas opções eleitorais. Já houve eleições que mudaram de rumo por causa do impacto produzido pela divulgação de “fatos relevantes”, tidos assim porque assim divulgados pela grande imprensa. Agora, a grande imprensa fica falando sozinha, enquanto o povo vai tomando suas decisões. Bem que ela insiste em lançar fatos novos, na evidente tentativa de influenciar os eleitores, e mudar o rumo das eleições. Mas não encontram mais eco. São como foguetes pífios, que explodem sem produzir ruído.

A reiterada publicação de fatos, que ainda continua, já não encontra sua justificativa nas reações suscitadas, que inexistem. Assim, as publicações necessitam se apoiar mutuamente, uma confirmando o que divulga a outra, mostrando-se interdependentes mais que duas irmãs siamesas, tal a impressão que deixam, por exemplo, determinado jornal e determinada revista. Esta autonomia frente à grande imprensa, se traduz também em liberdade diante das recomendações de ordem autoritária.

Elas também já não influenciam. Ao contrário, parecem produzir efeito contrário. Quando mais o bispo insiste, mais o povo vota contra a opinião do bispo. Este também é um “fato relevante”, às avessas. Não pela intervenção da Igreja no processo eleitoral. Mas pela constatação de que o povo dispensa suas recomendações, e faz questão de usar sua liberdade. Este “fato relevante” antecede o próprio resultado eleitoral, e pode se tornar ponto de partida para um processo político muito promissor. O povo brasileiro mostra que já aprendeu a formar sua opinião a partir de “fatos concretos”, que ele experimenta no dia a dia, dos quais ele próprio é sujeito.

Já passou o tempo das falácias divulgadas pela imprensa, onde o povo era reduzido a mero espectador. Em tempos de eleições, como agora, fica mais fácil o povo identificar em determinadas candidaturas a concretização da nova situação que passou a viver nos últimos anos. Mas para consolidar esta mudança, e atingir um patamar de maior responsabilidade política, certamente será necessário trabalhar estes espaços novos de autonomia e de participação, que o povo começou a experimentar.

Temos aí o ponto de partida para engatar bem a proposta de uma urgente reforma política, e também de outras reformas estruturais, indispensáveis para superar os gargalos que impedem a implementação de um processo democrático amplo e eficaz. O fato novo, a boa notícia, não consiste só em saber quem estará na Presidência da República, nos Governos Estaduais, e nos parlamentos nacionais e estaduais. A boa notícia é que o povo se mostra disposto a tomar posição e assumir o seu destino de maneira soberana e responsável.

Fonte:
http://www.viomundo.com.br/politica/dom-demetrio-ja-passou-o-tempo-das-falacias-divulgadas-pela-imprensa.html

Carta aberta a Dom Demétrio

Querido dom Demétrio

Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela.

Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições.

Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 2 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro.

Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votasse nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.

Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.
Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos.

Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.

Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres.

Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país.

Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras.

Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. “Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos”. Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias.

Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.

Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver. Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui!

Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.

Uma declaração clara da CNBB deve tranqüilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.

Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias

Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante.

Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente anti-evangélica.

Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por isso aguardamos palavras claras.

Obrigado, dom Demétrio.
José Comblin, padre e pecador.

5 de outubro de 2010

Fonte:
http://redecastorphoto.blogspot.com/2010/10/carta-aberta-dom-demetrio.html

Sobre o aborto

por Irene da Silva Telles

Causa espanto e revolta a polêmica que se faz sobre o aborto, atribuindo à candidata Dilma Rousseff uma declaração de que é a favor do aborto. Uma mentira deslavada porque não conheço UMA MULHER que seja a favor do aborto. Imagine-se!

Homens, sim! Aqueles que obrigam as mulheres em quem fizeram filhos a fazerem aborto. Claro que não dizem. Pelo contrário, com a cara mais hipócrita do mundo, declaram, se têm algum poder – senadores, deputados, vereadores, ministros do judiciário, padres, pastores etc – que são contra a descriminalização do aborto.

E as mulheres: alguém conhece alguma que seja a favor do aborto?

Que fazem aborto, podem fazer: a mulher que não agüenta mais, que sabe que não vai poder sustentar o filho – muitas vezes ignorado por quem o fez – a mulher que está com raiva do companheiro que a forçou, a mulher que está à beira de se matar porque está nos limites das forças. Essas, fazem aborto, sim.

Se têm dinheiro para pagar, fazem aborto nas clínicas aborteiras: uma clínica em cada bairro do Rio de Janeiro. (Algum legislador toma providências para fechá-las? Não, porque não interessa: as mulheres, filhas, netas e sobrinhas deles são clientes). As que não têm como pagar o aborto, arriscam-se, estrepam-se (e vão sobrecarregar os hospitais públicos) ou morrem mesmo.

E ainda são consideradas criminosas!

Enquanto isso, os homens ficam numa boa: não são criminalizados, parece que não têm nada com a gravidez da mulheres com quem dormiram.

É revoltante para nós, mulheres, vermos essa discriminação: parece que estamos no tempo do Antigo Testamento, como os fundamentalistas muçulmanos, que apredejam mulheres adúlteras.

Mas é bom, católicos e evangélicos, lembrarmos a Boa Nova (o Evangelho): quando o pessoal queria apredejar a adúltera, Cristo disse: “Quem não tiver pecados, atire a primeira pedra”. E todos se afastaram, os mais velhosem primeiro lugar. E Jesus perguntou: “Alguém te condenou? Eu também não te condeno”. E Cristo disse à adúltera: “Vai e não peques mais” (João 8, 3-11)

Infelizmente, parece que o Brasil ainda é vetero-testamentário: Jogue a pedra na mulher!

Irene Silva Telles é correspondente da redecastorphoto - 82 anos, professora aposentada do Estado do Rio de Janeiro e da Faculdade de Educação da UFRJ
Católica, casada mãe de 10 (dez) filhos e avó de 14 netos.

Fonte:

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

PELO FIM DA OPRESSÃO ÀS MULHERES NAS IGREJAS EM GERAL

Artigo de Waldicéia de M. T. da Silva disponível em:

http://www.artigonal.com/religiao-artigos/pelo-fim-da-opressao-as-mulheres-nas-igrejas-em-geral-2929331.html


Como pastora conferencista, palestrante e pregadora da Palavra de Deus, comprometida com a responsabilidade de conscientizar os cristãos e as cristãs da necessidade de vivermos o efeito igualador do evangelho, garantido por Jesus Cristo na cruz do calvário; sempre fico em oração nos últimos quinze dias do ano que termina e nos primeiros quinze dias do novo ano, pedindo a Deus uma palavra profética que possa fazer a diferença na vida de homens e de mulheres que decidiram colocar Jesus Cristo em primeiro lugar nas suas vidas.

A palavra profética que Deus me deu em 2009 foi "AS MULHERES CRISTÃS QUEREM VIVER O EFEITO IGUALADOR DO EVANGELHO". Avaliando o alcance dessa palavra profética nas conferências, palestras, pregações, etc.; realizadas em congressos, seminários, confraternizações, acampamentos, colóquios, orkut, afrokut, blog, etc.; pudemos ver Deus agindo na vida de homens e de mulheres que foram impactados e impactadas, muitas das vezes depois de se indignarem, de criticarem e de julgarem, mas foram convencidos e convencidas pelo Espírito Santo de Deus do pecado, da justiça e do juízo que cometiam, por falta de conhecimento e, puderam renovar as suas mentes, as suas vontades e as suas emoções, submetendo-as única e exclusivamente aos princípios defendidos por Jesus Cristo, na Bíblia Sagrada.

Após trinta dias em oração, a PALAVRA PROFÉTICA que Deus me deu para2010 é "PELO FIM DA OPRESSÃO ÀS MULHERES NAS IGREJAS EM GERAL".

Segundo o filólogo Aurélio Buarque de Holanda opressão é o ato ou efeito de oprimir,
exercício exagerado de poder ou de violência sobre indivíduos ou grupos, tirania, dificuldade de respirar, sufocação e oprimir é sobrecarregar com peso, apertar, comprimir, afligir, tiranizar, humilhar, vexar, causar opressão.

Infelizmente, contrariando os princípios defendidos por Jesus Cristo, ao longo de dois mil e nove anos, temos visto nas igrejas em geral, as mulheres sendo expostas a todo tipo de opressão, provocadas por homens de Deus e por mulheres de Deus.

As opressões em geral se manifestam de forma direta e/ou de forma indireta.

As opressões de forma direta são caracterizadas pelo(a):

  • ato de oprimir;
  • exercício exagerado de poder;
  • violência sobre indivíduos.

Podemos perceber as opressões de forma direta, através do ato de oprimir, quando existe a proibição de que as mulheres:

  • entrem nas assembléias das convenções de suas denominações;
  • assistam as assembléias das convenções de suas denominações;
  • tenham o direito de voz e de voto nas assembléias das convenções de suas denominações;
  • Se filiem as convenções de suas denominações;
  • ocupem o púlpito e só dirijam as reuniões do círculo de oração, da união feminina, da assistência social, etc.; em "mesinhas" colocadas embaixo do púlpito;
  • sejam ordenadas a pastoras, evangelistas, presbíteras e diaconisas;
  • dirijam igrejas;
  • dirijam cultos públicos;
  • se candidatem aos cargos de presidente e vice-presidente da igreja;
  • dirijam institutos, seminários, faculdades, universidades bíblicos;
  • doutrinem, ensinem e preguem em cultos públicos, etc.

Podemos perceber as opressões de forma direta, nas igrejas que já avançaram um pouco, através do exercício exagerado de poder, quando existe a proibição de que as mulheres:

  • ocupem o púlpito de calça comprida e sem mangas e, ao homem é facultado ocupar o púlpito com o traje que escolher;
  • cantem no coral de calça comprida e sem mangas e, ao homem é facultado cantar com o traje que escolher;
  • toquem instrumentos musicais na orquestra, de calça comprida e sem mangas e, ao homem é facultado tocar com o traje que escolher;
  • atuem como diaconisas, presbíteras, evangelistas e pastoras, de calça comprida e sem mangas e, ao homem é facultado atuar nos mesmos cargos com o traje que escolher, etc.

Podemos perceber as opressões de forma direta, nas igrejas que já avançaram um pouco, através da violência sobre indivíduos, quando determinadasmulheres que sugerem, criticam e questionam são proibidas de:

  • serem ordenadas a pastoras, evangelistas, presbíteras e diaconisas e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são ordenadas;
  • dirigirem igrejas e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são enviadas para dirigir;
  • dirigirem cultos públicos e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são designadas para dirigir;
  • se candidatarem aos cargos de presidente e vice-presidente da igreja e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são indicadas para concorrerem aos mesmos;
  • dirigirem institutos, seminários, faculdades, universidades bíblicos e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são convidadas para dirigi-los;
  • doutrinarem, ensinarem e pregarem em cultos públicos e as demais mulheres que se calam, se conformam e se resignam são escaladas para doutrinar, ensinar e pregar nos referidos cultos, etc.

As opressões de forma indireta são caracterizadas pelo(a):

  • efeito de oprimir;
  • violência sobre grupos;
  • sobrecarga com peso.

Podemos perceber as opressões de forma indireta, através do efeito de oprimir, quando as mulheres sem mais suportar a opressão na igreja:

  • desistem de sugerir, criticar e questionar;
  • se calam, se conformam e se resignam;
  • desistem do exercício de seus ministérios;
  • adoecem acometidas de enfermidades como estresse, depressão, síndrome do pânico, etc.

Podemos perceber as opressões de forma indireta, através da violência sobre grupos, quando aos poucos departamentos da igreja liderados por mulheres:

  • são negadas verbas para investimento e as mulheres precisam gerar recursos através de bazares, festas, cantinas, etc.; enquanto que nos departamentos liderados por homens as verbas são liberadas com presteza;
  • há o corte de verbas, tendo as mulheres de complementá-las com bazares, festas, cantinas, etc.; enquanto que nos departamentos liderados por homens o corte não acontece;
  • são exigidos o cumprimento de metas difíceis de serem alcançadas enquanto que nos departamentos liderados por homens, as metas exigidas são factíveis;
  • são os únicos departamentos em que as mulheres podem doutrinar, ensinar e pregar, etc.

Podemos perceber as opressões de forma indireta, através da sobrecarga com peso, quando se exige das poucas mulheres que ocupam cargos na igreja:

  • entrarem e assistirem as assembléias das convenções de suas denominações, porém sem direito a se filiarem e sem direito a voz e ao voto;
  • terem o direito de se candidatarem apenas aos cargos de secretária e/ou tesoureira, na diretoria da igreja;
  • executarem as funções de pastora, evangelista, presbítera e diaconisa, no entanto, sendo proibidas de receberem esses títulos e recebendo o título de missionárias;
  • um desempenho acima do desempenho exigido dos homens que também ocupam e/ou ocuparam o mesmo cargo;
  • uma dedicação de tempo integral, sem remuneração, quando aos homens que ocupam e/ou ocuparam o mesmo cargo não se exige e/ou exigia essa dedicação e os mesmos eram remunerados para o exercício do cargo;
  • entregarem o cargo, muitas das vezes por telefone, sem nenhuma justificativa plausível quando aos homens, normalmente existe uma reunião formal para que se dê a entrega do cargo, além de, ao mesmo tempo, elevá-lo a um outro cargo, de preferência superior ao que está deixando;
  • exercerem o seu ministério em parceria com o marido, realizando as mesmas funções que ele e, o marido recebe o título de pastor, evangelista, presbítero e diácono e a mulher é proibida de recebê-los, além de o marido ser remunerado e a mulher não, etc.

Na Bíblia Sagrada, em Zc. 9. 8, 12, Deus faz uma promessa de proteção para Judá, enquanto seus vizinhos estiverem nas garras dos opressores e das opressoras (14): "Defenderei a minha casa contra os invasores e as invasoras. Nunca mais um opressor ou uma opressora passará por cima do meu povo, porque agora eu vejo isso com os meus próprios olhos. Voltem à sua fortaleza, ó prisioneiros, ó prisioneiras da esperança; pois hoje restaurarei tudo em dobro para vocês".

Em 2010, as promessas de Deus para as mulheres que foram e/ou estão sendo oprimidas por homens e mulheres, nas igrejas em geral, são:

  1. Deus está vendo com os seus próprios olhos, cada uma das opressões de que as mulheres de Deus têm sido vítimas na Casa de Deus;
  2. Deus defenderá cada mulher de Deus contra todas as opressões de que têm sido vítimas na Casa de Deus;
  3. Deus nunca mais permitirá que os opressores e as opressoras, que têm agido na Casa de Deus, passem por cima das mulheres de Deus;
  4. Deus restaurará em dobro tudo que foi perdido por cada mulher de Deus, pela opressão sofrida na Casa de Deus.

Mas, para que você mulher, viva essas promessas em sua vida, a partir do ano de 2010, precisa tomar alguns posicionamentos:

    • colocar realmente Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo em primeiro lugar na sua vida;
    • admitir que você está sendo oprimida;
    • identificar que tipo de opressão você está sofrendo;
    • ter a coragem de jejuar, orar e pesquisar a Palavra de Deus para descobrir tudo que Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo dizem contra a opressão;
    • ir a Casa de Deus com o compromisso de não olhar para os opressores e as opressoras e sim para Deus, para Jesus Cristo e para o Espírito Santo;
    • voltar a Casa de Deus, como prisioneira da esperança de que, o que diz a Palavra de Deus contra a opressão prevalecerá, EM NOME DE JESUS!

(Artigonal SC #2929331)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Fazendo o processo

Caras irmãs, Caros irmãos, paz e bem!
Colocamos um ícone (pasta) ao lado contendo os currículos de algumas pessoas, com as quais estamos em contato sobre o pós-graduação. Seria interessante cada uma e cada um olhar para podermos ampliar o diálogo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

O estupro como arma de guerra

Disponível em
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=33781

Um mês depois de começar minha primeira viagem pelo Congo, palco do conflito mais mortífero desde a 2.ª Guerra, eu já tinha ouvido um considerável número de histórias de horror - do canibalismo forçado a casos em que habitantes de vilarejos inteiros foram queimados vivos. Tornei-me cada vez mais resistente ao choque de tais relatos. Mas uma conversa com uma funcionária de agência humanitária me deixou perplexa.

O artigo é de Lisa Shannon, escritora e fundadora da Organização Run for Congo Women, publicado pelo jornal The International Herald Tribune, e reproduzido n'O Estado de S. Paulo, 26-06-2010.

Em fevereiro de 2007 cheguei a Baraka, cidade às margens do Lago Tanganica repleta de soldados congoleses e funcionários de agências internacionais de ajuda humanitária. Perguntei a uma despenteada europeia que trabalhava para a ONU sobre a segurança no local. Entusiasmada, ela descreveu seu projeto de estimação, uma campanha em vídeo para convencer os refugiados na vizinha Tanzânia de que era seguro voltar para casa. "As milícias estrangeiras foram embora", disse ela. "No momento há apenas estupros e saques. Acabaram-se os ataques." Perplexa, perguntei a ela se a alta incidência de estupros não seria considerada um risco à segurança. "Aqui, os estupros são muito comuns", disse ela. "É uma questão cultural."

Esta foi a primeira de muitas vezes em que ouvi a importância dos estupros em massa noCongo ser reduzida para "algo cultural". A violência sexual no Congo está entre as piores do mundo. A ONU estima que centenas de milhares de mulheres tenham sido vítimas de estupros, tortura e escravidão sexual desde o início do conflito, em 1998. Foi naquele ano que grupos armados começaram a se comportar como máfias, lutando pelo controle dos minerais no leste do Congo. Para garantir o controle sobre o território, as milícias usam o estupro como arma.

Em maio, o Senado americano incluiu em sua proposta de lei para a regulação financeira um dispositivo exigindo das empresas públicas que se certifiquem de não comprar minerais extraídos das minas controladas pelos milicianos no Congo. Tais iniciativas são bem-vindas, ainda que aprovadas tão tardiamente.

Ainda assim, nós, ocidentais, temos o desagradável hábito de facilitar as coisas e enxergar o estupro como uma parte aceita de uma cultura estranha, e não como uma ferramenta de guerra que poderíamos ajudar a banir. Com frequência, transformamos os homens congoleses no inimigo, sem distingui-los daqueles que andam armados aterrorizado a população. Ao representar a violência como um conflito entre "homens e mulheres" ou reduzir a importância da crise como traço "cultural", cometemos uma grande injustiça com os homens congoleses. Em vez de ajudar, fazemos a eles um insulto implícito: sentimos muito, mas... bem, é assim que vocês são.

Esta percepção é muito difundida. Trabalho constantemente com congolesas, e me vejo dedicando muito tempo à defesa dos homens congoleses, seja durante um churrasco ao discutir com um bilionário sobre os "rituais tribais africanos de estupro" ou ao participar de um painel ao lado de um defensor dos direitos humanos que não para de falar a respeito das "raízes culturais da violência sexual no Congo".

Recentemente, a representante especial da ONU para os casos de violência sexual em situações de conflito, Margot Wallstrom, descreveu esta mentalidade como "a duradoura percepção da violência sexual como tradição, e não como tática deliberadamente escolhida".

Qualquer congolês pode lhe dizer que o estupro não é "tradicional". O crime existia noCongo antes da guerra, assim como em outras partes do mundo. Mas a proliferação da violência sexual deu-se com a guerra. Agora, tanto milicianos quanto soldados congoleses usam o estupro como arma. Na ausência de autoridade que a coibisse, a violência sexual assolou o leste do Congo, palco de seguidos combates. Isto não faz do estupro algo cultural; torna-o fácil de cometer. Existe uma diferença entre as duas coisas.

Os analistas costumam falar em "cultura de impunidade" para descrever o Congo. John Prendergast, que trabalhou por 25 anos em zonas africanas de conflito, explica: "O estado de direito desfaz-se e os perpetradores passam a cometer crimes sem temer a condenação e o castigo. Com o tempo, isto leva a um colapso maior dos códigos da sociedade e do próprio tecido social de uma comunidade."

A mídia, os funcionários das ONGs e os ativistas omitem consistentemente as histórias de homens congoleses que foram mortos por combatentes ao ter se recusado a estuprar. Descrever a violência no Congo como algo "cultural" é mais do que ofensivo. É perigoso. A funcionária europeia que descreveu a violência como traço "cultural" estava, com isso, sugerindo que as mulheres congolesas devem ter a expectativa de ser estupradas e se omitindo da responsabilidade de alertar as refugiadas sobre a ameaça à sua segurança.

Quando rotulamos o estupro no Congo como algo "cultural", estamos nos eximindo de toda responsabilidade. E isto é uma questão cultural. Um traço da nossa cultura.