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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Universidade católica dos EUA ''desconvida'' teóloga


Tina Beattie, professora de Estudos Católicos da universidade inglesa de Roehampton, especialista em questões de ética e de feminismo, membro da direção da revista católica britânica The Tablet, deveria ministrar, a partir do dia 6 de novembro, um curso como professora visitante no Frances G. Harpst Center for Catholic Thought and Culture daUniversidade de San Diego. Mas apenas dez dias antes, ela recebeu o cancelamento do cargo por causa das pressões dos financiadores da universidade, de acordo com uma carta enviada pela reitora, Mary Lyons.

A reportagem é de Ludovica Eugenio, publicada por Adista, 05-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Universidade de San Diego é uma instituição católica independente, nascida em 1952, da colaboração entre a arquidiocese de San Diego e a congregação religiosa feminina do Sagrado Coração de Jesus.

A revogação do seu cargo, disse Beattie em uma entrevista ao jornal católico norte-americano National Catholic Reporter, é "um sintoma de algo novo e muito preocupante": "Nunca se ouviu falar, ao menos na Grã-Bretanha, que um teólogo da minha posição se sinta ameaçado por uma ação desse tipo". "Não se trata de uma coisa que tenha a ver comigo. Tem a ver com uma mudança na cultura da Igreja Católica, com a qual deveríamos nos preocupar muito".

A notícia provocou espanto no mundo acadêmico norte-americano e britânico, que, através da voz de eminentes teólogos, definiu o procedimento de "um insulto". Por outro lado, a notícia da revogação chegou a Beattie mediante uma carta da reitora, que acusa a teóloga de "discordar publicamente do ensinamento da Igreja".

"A principal missão do Centro – afirma –, coerentemente com aqueles que o apoiaram financeiramente, é de oferecer a oportunidade de dar corpo à tradição intelectual católica nas suas diversas formas. Isso incluiria uma apresentação clara e coerente dos ensinamentos morais da Igreja, ensinamentos com relação aos quais a senhora, como teóloga católica, expressou sua discordância publicamente. À luz da contradição entre a missão do Centro e os seus posicionamentos públicos como teóloga católica, infelizmente retiro o convite que lhe tinha sido estendido". Na esperança de "mitigar os inconvenientes que essa decisão possa lhe criar", Lyon se oferece para reembolsar as despesas de viagem.

O conteúdo da conferência que Beattie deveria proferir no dia 8 de novembro, por ocasião de uma jornada de conferências do Centro foi removido do site, mas o link para a cópia em cache da página web fornecido pelo NCRrevela que o seu tema – "Visões do paraíso: Mulheres, pecado e redenção na arte cristã" – abordaria a "representação artística do corpo das mulheres" entre a Idade Média tardia e a arte renascentista.

Não é a primeira vez a teóloga tem um compromisso cancelado. Isso também ocorreu em setembro passado, quando lhe foi retirado o convite para falar na Catedral de CliftonInglaterra, por ocasião de uma série de conferências pelo 50º aniversário do Concílio Vaticano II. Um mês antes, de fato, a teóloga havia assinado uma carta aberta em favor do casamento homossexual, publicada no jornal Times. Nessa ocasião, a iniciativa não havia sido do bispo da diocese, mas sim da Congregação para a Doutrina da Fé.

"Trata-se de um insulto contra uma eminente teóloga que eu conheço pessoalmente, da qual eu conheço o trabalho e que eu acredito que sempre foi correta nos modos em que expressou e desenvolveu as suas opiniões", afirmou, comentando o caso, a teóloga Jean Porter, professora de teologia da Universidade de Notre Dame.

"É profundamente desanimador – ecoou Eamon Duffy, professor de história cristã da Universidade de Cambridge, em uma carta a Lyons – que a reitora de uma universidade católica caracterize a discussão acadêmica e o debate entre católicos como 'discordância' e que tente suprimir o intercâmbio acadêmico atingindo um único indivíduo que a Igreja não condenou".

"A Igreja está fazendo mal a si mesma com o seu medo de empreender uma discussão verdadeiramente honesta e aberta sobre questões intelectuais, de fé e também problemas de prática e de governo da Igreja", disse Porter. "Penso que vemos cada vez mais os sinais disso: estamos sofrendo gravemente por causa disso. Não posso imaginar, na esfera do debate e da discussão pública, nada mais nocivo para a Igreja do que o que estamos fazendo contra nós mesmos neste momento". "Esta medida – concluiu a teóloga – é apenas mais um sinal do que está se tornando um problema sério e invasivo".

Na realidade, a Universidade de San Diego não é nova em procedimentos desse tipo. Em 2008, ela retirou o convite à teóloga feminista Rosemary Radford Ruether, que deveria lecionar teologia católica no ano acadêmico posterior.

Fonte: http: noticias="noticias" universidade-catolica-dos-eua-desconvida-teologa-liberal="universidade-catolica-dos-eua-desconvida-teologa-liberal

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

25 Anos da Rede Mística Feminina no Meio Popular

O Grupo Miriam Dabar se fez presente no 25º Encontro Estadual da Rede Mística Feminina no Meio Popular, ocorrido no Assentamento Filhos de Sepé, no Município de Viamão, RS, em 22-23 de setembro de 2012. Na ocasião distribuiu subsídio elaborado em homenagem aos 25 anos de caminhada.
Partilhamos algumas fotos do lindo encontro:











quarta-feira, 7 de março de 2012

No dia 8: luta e indignação - Nancy Cardoso

Dia de luta dos movimentos internacionalistas de mulheres, o 8 de março nunca foi um dia fácil de engolir! Entre o fim de fevereiro e o começo de março as mulheres socialistas dos inícios de 1900 na Rússia, na Europa e nos Estados Unidos celebravam seu dia de luta a partir de acontecimentos importantes: greves, manifestações, enfrentamentos!

Em plena Guerra Mundial, em 1917, na Rússia, as mulheres socialistas realizaram seu Dia da Mulher no dia 23 de fevereiro, pelo calendário russo. No calendário ocidental, a data correspondia ao dia 8 de março. Neste dia, em Petrogrado, um grande número de mulheres operárias, na maioria tecelãs e costureiras, contrariando a posição do Partido, que achava que aquele não era o momento oportuno para qualquer greve, saíram às ruas em manifestação; foi o estopim do começo da primeira fase da Revolução Russa, conhecida depois como a Revolução de Fevereiro.

O que elas queriam? O que nós queremos?

Abolir a propriedade privada? Com certeza!! Abolir a propriedade privada como base da sociedade que estrutura desigualdades, cria hierarquias de poder e mantém uma sistemática guerra contra a natureza e seus seres. O 8 de março é um dia de luta contra a propriedade privada... também no âmbito das relações sociais, do casamento e da sexualidade. Cama, mesa e banho. É isto mesmo... queremos abolir os poderes de latifundiários, empresários, políticos, patrões, maridos e senhores. Horrorizai-vos! O 8 de março é um dia anti-burguês, contra as ridículas homenagens burguesas que tentam continuar emburrecendo as mulheres com tradição, família & propriedade ou flores, bombons & um laço de fita, ou mitos do amor romântico, da beleza e da maternidade. Horrorizai-vos! é contra tudo isso que lutamos, articulando classe-gênero e etnia na construção de um eco-socialismo feminista.

E a burguesia grita!! "Vocês mulheres, feministas, comunistas querem introduzir a comunidade das mulheres!!" É verdade! Já vivemos assim! Já somos comunidade e construímos na luta nossa unidade entre mulheres do campo e da cidade! Não aceitamos ser reduzidas a instrumento de produção e reprodução do capital, da família e do poder masculino. Nós arrancamos nós mesmas das formas violentas e históricas que querem nos manter subordinadas, minorizadas e desiguais.

Neste exato momento centenas de mulheres camponesas do Rio Grande do Sul estão debaixo da lona preta, debaixo do eucaliptal, num dos 200 mil hectares das multi-imperialistas do agronegócio florestal - Aracruz, Votorantin, Stora Enso, Boise... - denunciando que o deserto verde está impedindo a reforma agrária e inviabilizando a agricultura camponesa.

Neste exato momento as mulheres da Via Campesina e suas crianças morrem de pena das árvores enfileiradinhas, da terra ocupada com nada, do alimento que não brota do chão, da água que não tem mais tempo de molhar. Observadas pela Brigada Militar - seus cavalos e cachorros - as mulheres abençoam o mundo e dormem entre o medo e a solidariedade. Toda a campina se ilumina perdoando as árvores de mentira em sua feiúra. E no escuro, elas se fazem Via... láctea, campesina, revolucionária e planejam hortas, pomares e cozinhas de um plano camponês para o Brasil.

Neste exato momento mulheres fortes, atentas e decididas fazem a segurança do acampamento nas terras da Boise. Quem quiser doçura, carinho, afeto e graciosidade... melhor que escreva sobre confeitarias ou almofadas. O grande amor da vida delas vai misturado com a capacidade de saber endurecer... perdendo a paciência quando precisar.

Elas perdoam as mulheres burguesas e suas mentirinhas, as feministas interrompidas e suas teologias, mas não toleram mais discursos gerais sobre mulheres inexistentes, nem elogios da diferença que não fazem diferença alguma. É por dentro da luta de classes que a luta das mulheres trabalhadoras acontece. É por dentro das mulheres que a luta de classes avança.

Horrorizai-vos! Senhores teólogos. O 8 de março chegou anunciando também- contra toda a esperança! - que os dias do deus-pai estão contados e que há de chegar o dia - e já veio - em que se fará teologia com o coração ardente, contra toda violência e propriedade.

* Pastora metodista. Coordenação nacional da Comissao pastoral da terra-CPT

Eu tenho um nome e me chamo Mulher! Fernanda da Silva

Maria, minha irmã

Venho nesta manhã contigo bendizer

A vida que renasce, o sonho que permanece

A luta, a utopia que não se deixa morrer

Quero também eu inclinar-me

Quero também ter coragem de abaixar

Perceber que é possível o túmulo olhar

assim então em ti Senhor abandonar-me



Quero correr os campos

Atravessar as montanhas,

Banhar-me em teus rios

Enxugar meu pranto

Escutar meu nome pronunciado



Vem comigo então Maria

Vem e ensina-me

Mostra-me tua coragem

Pois desejo também eu amar como tu amas

Desejo também percorrer as vinhas

Saltar as janelas para encontrar-me com o Amado



Desejo escutá-lo...

Ouvir a voz do jardineiro: do Deus cuidador

Àquele que toca minhas raízes

E aprofunda meu ser em tuas terras

Meu Deus, Meu Amado, Meu Redentor



Eis que estou aqui minha companheira

Minha querida Madalena

Também quero escutá-lo a pronunciar meu nome

E assim reconhecê-lo



E assim voltar-me-ei aos campos

A bendizer e proclamar

Que também eu vi o Senhor

Também eu senti teu amor



Fernanda Priscila é integrante do projeto Força Feminina e acompanha profissionais do sexo em Salvador/BA. É autora do livro Estações do Crer.